«Brincar é, todos o reconhecem, absolutamente decisivo, diríamos indispensável, para um adequado neurodesenvolvimento, mormente motor, cognitivo, linguístico, social e emocional, entre outros. As diversas aquisições neurodesenvolvimentais, em todas as suas dimensões, são mais significativas e duradouras quando ocorrem nos contextos naturais de aprendizagem (obrigatoriamente em ambiente de estrita inclusão social!), têm em conta os interesses da criança e aproveitam as oportunidades decorrentes das suas rotinas diárias. A aprendizagem realizada através do brincar, ou seja, por meio das brincadeiras, torna-se mais fácil, intuitiva e eficaz, dado o seu carácter recreativo, prazeroso, espontâneo, exploratório e natural. Brincar é, pois, o modo espontâneo e natural de as crianças explorarem aquilo que as rodeia (tudo serve para brincar!), permitindo que aprendam a partir das suas próprias experiências e exercitem as suas capacidades de planificação e de execução operacional.
Este livro, em boa hora publicado, destina-se, essencialmente, como muito bem lembram os autores, a pais, a educadores, a professores e a todos aqueles que se interessam pelo neurodesenvolvimento da criança, quer ele seja convencional, quer ele seja atípico. O seu conteúdo caracteriza-se, de uma forma muito sumária, pela apresentação de um repertório, muito completo e bem estruturado, de atividades suscetíveis de promover a aprendizagem, em múltiplas áreas, através do brincar e com base nas Orientações do Ensino Pré-Escolar, emanadas do Ministério da Educação.
Adicionalmente, as Perturbações do Neurodesenvolvimento, área em que os autores desta obra são proeminentes especialistas, estão, no âmbito da pediatria, entre as mais prevalentes, muitas delas com prognóstico funcional reservado, sobretudo quando há um compromisso das áreas cognitiva e linguística. A identificação atempada de alterações neste domínio assume, pois, uma importância crucial, já que a intervenção precocemente instituída poderá, se não eliminar, pelo menos minimizar o seu impacto no sujeito, na família e na comunidade.
O conhecimento das diferentes etapas do desenvolvimento, a sua antecipação e o aconselhamento dos pais sobre as atividades suscetíveis de ajudar a promover a aquisição das diferentes competências, poderão evitar alguns dos problemas relacionados com fatores ambientais e, logo, erros ou lacunas na estimulação, grosso modo, do neurodesenvolvimento global da criança.
Desempenhos filogeneticamente mais recentes, como a linguagem e outras funções cognitivas superiores (leitura, escrita, matemática, …), são menos inatos e mais dependentes da experiência (o sujeito, ou seja, o recetor necessita da cooperação de um emissor), ou, por outras palavras, de um treino explícito, razão por que será tão importante saber detetar os desvios disfuncionais significativos, quanto saber identificar, também, os desvios não patológicos e passíveis de correção através de medidas, algumas delas bem simples. Exatamente como aquelas ora propostas nesta singela, mas importantíssima e indispensável obra.»
Miguel Palha
Pediatra do Neurodesenvolvimento
Diretor Clínico do Centro de Desenvolvimento Infantil DIFERENÇAS
Fundador da Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21